Como a inteligência artificial ajuda a combater os efeitos das mudanças climáticas

De modelos preditivos mais completos a sistemas de economia de energia, passando por tecnologias para reduzir as emissões, as aplicações são muitas e vêm aumentando.


Soluções inteligentes estão voltadas para o setor energético (Foto: Pixabay)


Modelos preditivos eficientes e desenvolvidos com base no maior volume possível de dados. Essa é uma das aplicações mais tradicionais da inteligência artificial (IA). Há anos a tecnologia é utilizada pelos pesquisadores que se debruçam sobre a mudança global pela qual o planeta vem passando. Com base em algoritmos, será possível continuar monitorando o desequilíbrio provocado pelas atividades humanas, bem como medir o impacto das ações de redução de emissões desenvolvidas por governos e organizações.

Mas as aplicações de IA para o combate dos efeitos da mudança climática vão muito além. Algumas ainda não estão desenvolvidas o suficiente, outras precisam ganhar escala, mas todas têm muito a contribuir para o esforço planetário de contenção do aumento da temperatura da Terra. Em novembro passado, durante a COP-26, a convenção do clima realizada em Glasgow, na Escócia, 15 pesquisadores, de diferentes instituições da América do Norte e da Europa, entregaram às lideranças globais o relatório Artificial Intelligence in the Fight against Climate Change. Ali, listaram uma série de recomendações de como a tecnologia pode ajudar a produzir dados mais precisos e com maior agilidade.

Uma das sugestões dos pesquisadores é a instalação de bancos de dados abertos, compartilhados com maior transparência, de forma a melhorar a acurácia dos relatórios. A outra recomendação é incluir especialistas em AI nos grupos governamentais de análise de novas políticas capazes de conter os efeitos da mudança climática. Em outras palavras, eles conclamaram a comunidade internacional a investir em ciência com a colaboração global entre parceiros.

Usos concretos

O relatório também aponta casos de uso que já são aplicados com sucesso, incluindo estratégias para a redução do consumo de energia e das emissões de gases poluentes, novas tecnologias para otimizar o uso do solo e modelos preditivos de desastres naturais — que tendem a se tornar mais comuns com o aumento da temperatura média global e o consequente derretimento de geleiras, com o crescimento do nível do mar na direção de cidades litorâneas.

Nesse contexto, defendem os pesquisadores, as cidades inteligentes, apoiadas em conectividade e dados, já utilizam IA para viabilizar soluções em larga escala. O mesmo se aplica a muitos outros setores, como o industrial. E também à capacidade de monitoramento da queima de florestas, que se beneficia da interpretação mais ágil dos dados gerados por satélites. No mercado financeiro, por sua vez, a tecnologia melhora o desempenho da avaliação do mercado de carbono e dos fundos de ações ancorados em práticas ESG.

Quinze meses antes da publicação desse relatório, a consultoria PwC realizou um outro levantamento, por encomenda da Microsoft, e deu uma dimensão do uso de AI na luta contra a mudança climática. Constatou que, até 2030, a tecnologia tem o potencial de reduzir as emissões globais de gases causadores do efeito estufa em 4%, e que o mercado de aplicações ambientais utilizando inteligência artificial deverá valer até 5,2 trilhões de dólares, além de gerar mais de 38 milhões de postos de trabalho no mundo. E o mais importante: poderá salvar até 32 milhões de hectares de florestas e contribuir com a redução de emissões de até 2,4 bilhões de toneladas de CO2. Para isso, aponta o estudo, será preciso investir em ações coordenadas de larga escala.

Os benefícios podem alcançar as pessoas de diferentes formas, que vão além da contenção do aquecimento global. Sistemas mais inteligentes de monitoramento do ar, por exemplo, podem identificar focos de emissões, mas também reduzir gastos públicos com saúde da ordem de 150 milhões de dólares. Para alimentar a população mundial de 2050, que deverá alcançar 9,7 bilhões, segundo uma projeção da ONU, uma agricultura mais eficiente não só usaria menos terra, como também uma quantidade menor de água e fertilizantes. Além disso, uma produção mais eficiente, e mais próxima do mercado consumidor, contribuiria para reduzir as emissões de gases do setor de transportes e logística.

 

Formação de profissionais

Um dos setores mais pressionados a rever padrões é o de energia. Combustíveis fósseis, utilizados para movimentar veículos e gerar eletricidade, são os maiores causadores de aquecimento global. A IA está na base do esforço para aumentar a eficiência energética, com processos automatizados, reduzindo o consumo e o desperdício em diferentes frentes, de lâmpadas com sensor de presença a automóveis autônomos, que otimizam o uso de combustível. Também pode contribuir para o aumento da eficiência das soluções de energia renovável. Sozinhas, essas soluções inteligentes aplicadas à energia têm o potencial de reduzir o aumento das emissões em até 2,2% até o fim da década, segundo o estudo da PwC.

O cenário, portanto, é favorável à implementação de soluções utilizando IA. Os stakeholders das empresas, incluindo os investidores, pressionam por ações concretas, assim como os cidadãos contribuem incluindo essas demandas na agenda eleitoral. Nesse contexto, uma das principais demandas do grupo de pesquisadores que apresentou o estudo durante a COP-26 é acelerar programas de formação de especialistas em tecnologia preparados para lidar com as especificidades das pesquisas envolvendo o clima.

O Insper tem muito a contribuir para esse esforço: além do novo curso de graduação em Ciência da Computação, a instituição oferece uma série de programas de ensino de IA, disponíveis a todos os alunos, incluindo os de áreas como Direito e Comunicação. Assim, faz sua parte no esforço de traduzir dados em informação relevante, melhorar as previsões e acelerar o avanço de pesquisas científicas inovadoras sobre o tema.


Por Insper Conhecimento