Por que líderes buscam mais interações nas redes sociais?

O que meus seguidores querem consumir nas redes sociais? Devo separar meus objetivos pessoais dos empresariais em plataformas online? Quais são os benefícios de me projetar nas redes? Estas são algumas das dúvidas respondidas por duas advogadas e gestoras de negócios que têm investido em seus perfis digitais, adaptando linguagens técnicas para aproximar diferentes públicos de temas relacionados à atuação profissional.

Como todas as experiências, as redes sociais têm um lado positivo e um negativo quando se expõe a vida pessoal, demandando cuidados redobrados com a postura, principalmente, se a exposição estiver vinculada à profissão.

Importante aliadas de empresários para construir networking, o uso das mídias sociais se intensificou nos últimos dois anos e se já eram aliadas fundamentais no desenvolvimento de negócios, atualmente reconfiguraram os conceitos de vínculo, conexão e interação.

As relações virtuais passaram a moldar o mercado de trabalho e, para serem cada vez mais assertivas, precisam estar associadas a um uso estratégico das redes sociais.  

O professor e filósofo coreano Byung-Chul Han, autor de vários livros sobre a era digital, explora a ideia de que a sociedade vive seu maior período de isolamento e não por causa da crise pandêmica, mas devido ao uso intenso das plataformas digitais. Pandemia e solidão impostas trouxeram, consequentemente, maior popularidade para algumas destas plataformas que ajudaram no contato interpessoal, ainda que separado por telas.

Os negócios também passaram a ser conectados por meio dessas redes. E um dos efeitos da Covid-19 foi entender que não é mais possível pensar uma atividade econômica que não esteja exposta nas redes sociais. Uma das provocações inerentes a este cenário é como manter sobriedade, tecnicidade e profundidade em um momento de economia da atenção, em que algoritmo e lógica de interesses da inteligência artificial selecionam os conteúdos de destaque no feed de cada indivíduo. Então, como se destacar?

As advogadas Carla Amaral de Andrade Junqueira e Jenise Castro de Carvalho, ambas gestoras de renomados escritórios de advocacia, relatam suas experiências em diferentes etapas de uso das redes.

A exposição da vida pessoal tem trazido contatos profissionais?

“A exposição trouxe sim muitos contatos e projetos profissionais”, relata Carla Junqueira, que conquistou mais de 112 mil seguidores no Instagram nos últimos anos, mantendo perfis que contam um pouco sobre suas aventuras e momentos familiares, mesclando conquistas de seu escritório de advocacia, fundado em 2019.

“Considero que sou uma profissional que compartilha momentos para inspirar jovens advogadas e mostrar que é possível ter uma carreira e um casamento bem-sucedidos, além de (muitos) filhos”, comenta a advogada.

Para Jenise Carvalho, um recente movimento de transição foi necessário, criando, para si, um perfil profissional apartado do pessoal e relata que, independentemente dos perfis, “no mundo virtual, as pessoas querem ver a vida de outras pessoas, conviver com ela, saber seus hábitos e aprender coisas novas”.

Neste momento de descobertas, Jenise ainda reforça que vale a pena pesar seus objetivos antes de escolher o tipo de conteúdo a ser divulgado e em quais tipos de redes sociais, citando o LinkedIn, rede voltada para contatos profissionais, em que as pessoas já estão cientes que as publicações serão, em sua maioria, sobre driblar algoritmo, assim, “os contatos acontecem com mais fluidez”, reforça.

g_66_0_1_16072021130800Jenise Carvalho, sócia-administradora do escritório MJ Alves e Burle. (Foto: Divulgação)

Como aproximar o público de temas técnicos?

Para as advogadas, há, sim, interesses legítimos de consumir conteúdos técnicos nas redes, tanto para contratantes quanto para contratados. O segredo está, realmente, em definir público, conteúdo e local.

“Como gestora, busco aproximar meus seguidores para uma visão mais humanizada da gestão e a importância de entendermos que, dentro de todas as empresas, temos pessoas”, pontua Jenise Carvalho. Para a sócia-administradora do escritório MJ Alves e Burle, as redes sociais têm papel de “enaltecer o trabalho dos administradores e demais colaboradores, gerando negócios e atraindo novos talentos”.

“Sempre que posso, posto temas técnicos para advogados e economistas, por exemplo, mas percebo que o engajamento é menor. Isso nem sempre precisa ser visto como algo negativo, pois é um conteúdo extremamente direcionado para o meu público profissional. Salvo o LinkedIn, em outras redes, as pessoas preferem ver amenidades e engajar com a minha pessoa física”, compartilha Carla Junqueira.

g_66_1_1_19022021141554Carla Junqueira é sócia e fundadora do escritório de advocacia CJA Trade Law. (Foto: Divulgação)

As redes podem “quebrar” estereótipos da profissão?

“Quando o assunto é a advocacia, que é uma carreira que, por si só, é vista como formal, assim com o inúmeras outras, qualquer tentativa muito brusca de quebrar estereótipos pode trazer consequências sérias para a credibilidade do profissional”, explica Jenise Carvalho. “É preciso refletir e ter estratégia antes de se arriscar e sair tentando quebrar paradigmas”.

Cada vez mais, os espaços digitais se tornam portfólios profissionais com uma mistura de publicações mais humanizadas, que evidenciam também a personalidade ou os bastidores do dia a dia de uma pessoa. Parte da valorização, do engajamento e da adesão de públicos acontece pela produção de conteúdos de maneira frequente para essas plataformas. No entanto, saber como se posicionar, tornou-se outro grande desafio, visto que uma opinião publicada, quando não agrada a comunidade de seguidores, pode ocasionar no efeito de “cancelamento digital” junto com manifestações negativas por parte do público.

Para driblar os cancelamentos é preciso dissolver arquétipos. Carla Junqueira conta que o arquétipo da mulher profissional nos anos 90, quando iniciou seu primeiro estágio em um escritório, era o de uma mulher solteira, séria, de óculos e que vivia para o trabalho. “Nós éramos obrigadas a usar saia e meia calça para trabalhar e isso foi sendo modificado com os anos. Em 2011, quando abri a minha conta no Instagram, postava looks mais modernos, dizia ‘não ao terninho preto’ e causei polêmica no início. Também fiz questão de mostrar nas redes que podemos equilibrar vários pratos e ser polivalentes sem precisar viver apenas para o trabalho. Entendo que esse movimento é uma tentativa de quebrar um estereótipo”, reforça.

Que tipo de conteúdo gera mais interação dos seus seguidores?

Interatividade passa a ser elementar na conexão de uma página pessoal ou profissional e seus públicos. Para tanto, formatos diferentes dão roupagem às informações técnicas, mas nem sempre o conteúdo mais técnico é o que oferecer mais engajamento.  Para Carla Junqueira, sem dúvidas, fotos de toda a família reunida geram mais interatividade com os seguidores – “As pessoas gostam de ver a família completa na foto”.

Para Jenise Carvalho, “os conteúdos com maior interação são aqueles que trazem fotos pessoais e um pouco da minha história de vida”.

As advogadas entendem que é preciso comunicar avaliando as características específicas de cada rede e potencializar conteúdos importantes entre várias informações lançadas no ciberespaço. Para atingir mais interatividade e relacionamento com usuários diferentes, os conteúdos relevantes, cada vez mais, auxiliam para driblar algoritmo e gerar autoridade.  

Quanto ao Linkedin, “estamos acompanhando diversas pessoas conseguindo ser valorizadas pelo que são, como são e tendo sucesso. Hoje não cabe mais “parecer ser”. É preciso refletir e ter estratégia antes de se arriscar e sair tentando quebrar paradigmas”, ressaltou Jenise.

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