Fábio Medrano Siccherino: meta é atrair projetos e diversificar cargas para gerar dividendos para os acionistas

Novo diretor-presidente da DP World Santos, primeiro brasileiro no cargo, assume companhia com a responsabilidade de melhorar resultados e potencializar investimentos.

Fábio Medrano Siccherino, Diretor-Presidente da DP World Santos (1)Novo diretor-presidente da DP World Santos. (Foto: Divulgação)

A Dubai Port World Santos, um dos maiores e mais modernos terminais privados multipropósito do Brasil, instalado na margem esquerda do Porto de Santos, promoveu uma mudança importante em sua estrutura organizacional. O executivo Fábio Medrano Siccherino, assumiu no início de abril, o cargo de diretor-presidente em substituição ao australiano, Dallas Hampton, que liderava a empresa desde 2017.

Anteriormente como diretor comercial e de relações institucionais, em seus sete anos de trajetória na DP World Santos, Siccherino esteve à frente das ações comerciais do terminal, com destacada atuação na parceria firmada com a Suzano, que deu origem à construção e operação do maior e mais moderno complexo de celulose do país.

Neste período, ainda manteve papel fundamental na busca por soluções alternativas à movimentação de contêineres, algo que tem se mostrado bem-sucedido por agregar receitas adicionais importantes para a empresa. Com investimentos de R$ 2,3 bilhões, a empresa gera mais de 1200 empregos diretos e possui capacidade de movimentação anual de 1,2 milhão de?TEUs.

Com ampla formação acadêmica na área e mais de 20 anos de experiência em supply chain e desenvolvimento de projetos multimodais dentro e fora do Brasil, nesta entrevista Fábio Siccherino fala dos desafios de assumir a companhia e seus objetivos como líder em um setor altamente competitivo e complexo.

Quais são os principais planos da DP World Santos para ampliar suas receitas no país ao longo de 2021 e nos próximos anos?

Temos duas linhas estratégicas bastante claras. Primeiro, queremos ampliar o processo de diversificação de cargas. Quando o terminal iniciou suas operações, em 2013, éramos uma empresa especializada em carga conteinerizada, mas passados alguns anos, percebemos que esse mercado tinha diminuído sua atratividade e retorno com base no investimento. Isso ocorreu pelo excesso de capacidade instalada e exagerada regulação do setor. Nesse momento, temos um contrato de celulose para movimentar 3.3 milhões de toneladas ano com o parceiro Suzano e essa estratégia já está consolidada. A proposta para 2021 é dar continuidade a este modelo com novos projetos. A outra linha de ação é justamente a atuação da DP World Logistics, novo braço do Grupo DP World criado no final de 2020 e que iniciou suas operações em março. A ideia é desenvolver a empresa como um provedor de serviços porta a porta, tanto para importação como exportação.

Essa diversificação de serviços será um grande diferencial nos pós-pandemia?

Eu diria que ela já começou a mostrar sua importância desde o início da pandemia. Olhando um pouco para o primeiro semestre do ano passado, os terminais de contêineres sofreram muito com a redução do volume de exportação, a recuperação só veio no final de outubro. Muitos serviços tiveram sua capacidade reduzida e unidades de produção colocaram seus funcionários em férias coletivas. Em contrapartida a este cenário, nós tínhamos a diversificação de carga que era a celulose, um dos principais itens da pauta de exportação brasileira, ou seja, um produto que com a desvalorização do real frente ao dólar se tonou ainda mais competitivo no mercado externo. Com isso, o volume de exportação de celulose cresceu, ajudando a equilibrar as receitas. Passamos por 2020 sem muita turbulência e com resultado até bastante satisfatório.

A nova empresa de logística internacional da DP World pretende atuar em segmentos e cargas específicas, visa sanar algum gargalo?

O foco dela, primeiramente, é carga conteinerizada, mas sem focar em um segmento específico. A ideia dessa operação é que ela possa aproveitar toda a capilaridade da DP Word, com seus mais de 80 terminais espalhados por 50 países e conectar as nossas operações por meio desse serviço, não que ele seja exclusivo para conectar os terminais, mas preferencialmente vamos buscar clientes que possam aproveitar essa sinergia.

Como o Programa de Incentivo à Cabotagem, a BR do Mar, deve influenciar os próximos passos da DP World no país?

Temos hoje três armadores de cabotagem no Brasil, dois deles operam no nosso terminal. Sou um grande amante da cabotagem, eu trabalhei por mais de 10 anos em uma empresa do segmento e conheço muito bem as particularidades e as dificuldades desse modal. Agora, com a possibilidade da entrada de navios maiores no Porto de Santos, o serviço de cabotagem será fundamental para distribuir esse grande volume de cargas e conectar os diversos portos da costa com navios menores. Além disso, não dá para imaginar a manutenção do transporte de cargas por distâncias acima de dois, três mil quilômetros, apenas pelo modal rodoviário, sendo este modelo fundamental para curtas distâncias e complementando o serviço de cabotagem.

Já em relação ao escoamento da produção nacional, a infraestrutura ferroviária poderá revolucionar a operação dos portos?

O Porto de Santos movimenta hoje de 2% a 3% de seu volume pela ferrovia, o que é pífio. O modal ferroviário é eficiente e competitivo, do ponto de vista da sustentabilidade, emite muito menos CO2 do que outras operações. Para continuarmos competitivos, precisamos ter uma conexão eficiente via ferrovias. Quando pegamos a pauta de exportação brasileira, os cinco ou seis maiores produtos são de grande volume e baixo valor agregado, o que exige infraestrutura, mas um custo logístico baixo. A ferrovia oferece isso, possui eficiência e capacidade para movimentar grandes volumes. Hoje, toda a celulose que movimentamos já chega pelo terminal pela Rumo, via ferrovia.

Estudio58-9581Fábio Medrano Siccherino é o primeiro brasileiro no cargo. (Foto: Divulgação)

Destaque os maiores entraves para o setor nesse momento?

O grande problema hoje é a infraestrutura. Se buscarmos lá na década de 1970, o Brasil passou mais de 10 anos investindo perto de 6% do PIB em infraestrutura, mas de 1983 para cá, reduziu drasticamente seus aportes. Perdemos muito estoque de capital de infraestrutura nos últimos 20 anos ou próximo disso. Neste momento, com o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) temos uma série de projetos bastante interessantes, um bom volume de novos leilões e concessões. Porém, para atrairmos o investidor privado é preciso oferecer segurança jurídica e previsibilidade regulatória. Eu não tenho dúvida alguma que exista um apetite brutal por parte dos investidores privados e estrangeiros. Também temos um grande caminho a ser percorrido para que a infraestrutura de acesso portuário se desenvolva, seja aquaviário, terrestre ou ferroviário. Tudo isso precisa estar muito bem dimensionado para que a gente possa garantir competitividade ao produto brasileiro no exterior.

Como a companhia incorpora os conceitos de ESG em sua rotina, principalmente no aspeto ambiental?

A estratégia global de sustentabilidade “Nosso Mundo, Nosso Futuro” da DP World orienta a abordagem e nos direciona a trabalhar de forma responsável, reduzindo o impacto de nossas atividades nas pessoas, nas comunidades e no meio ambiente. Para cumprir nossa estratégia, estamos trabalhando com organizações, parceiros, indivíduos e instituições líderes. Em 2019, tivemos o prazer de aderir ao Pacto Global da ONU. Recentemente, anunciamos uma parceria com o UNICEF para apoiar a distribuição global de vacinas contra a COVID-19 e suprimentos de imunização em países de renda baixa e média-baixa. Já investimos?cerca?de R$ 12 milhões em mais de 30 projetos voltados à fauna e flora da região, realizamos o salvamento de mais de 35 mil plantas e sementes,?com?reaproveitamento da biomassa e resíduos vegetais e monitoramento de restingas e manguezais.

Quais serão seus objetivos e metas no cargo de diretor-presidente a partir de agora?

Quando eu entrei no terminal, a operação estava completando seu primeiro ano, naquele momento consegui entender muito bem todos os desafios da empresa e acompanhar as etapas iniciais do empreendimento. Avalio que o desafio do negócio hoje é que apesar de termos uma boa geração de caixa, nunca tivemos lucro na última linha, isso por todas as dificuldades de operar em um país como o Brasil e nesse ambiente de excesso de regulação. Tenho como meta atrair projetos para o terminal, manter a estratégia de diversificação de carga com iniciativas que possam a média e longo prazo gerar dividendos para os acionistas, esse é meu objetivo. Desta forma, entraremos em um ciclo muito favorável, dando retorno para o acionista eu consigo captar mais recursos e realizar novos projetos no país. Esse é meu grande objetivo pessoal, além de transformar a empresa de logística em um player importante do mercado. Serei o primeiro presidente brasileiro da DP Word Santos, isso traz uma série de expectativas positivas para as pessoas. Quero poder garantir os excelentes padrões de operação e segurança que tivemos até agora, manter essa agenda social, de desenvolvimento e de diversidade dentro do terminal. Assumir a presidência da companhia em ano de pandemia certamente simboliza um desafio duplo.