Servidores demonstram desengajamento e adotam silêncio diante de politização

Pesquisa com funcionários do Meio Ambiente detectou deterioração de clima no local de trabalho.

Fachada da sede do Ministério do Meio Ambiente, em BrasíliaFachada da sede do Ministério do Meio Ambiente, em Brasília. (Foto: Agência Brasil)

Servidores federais de carreira da área ambiental, diante do aparelhamento político-ideológico de postos de comando na pasta e aumento dos comportamentos abusivos das chefias, relataram níveis altos de desengajamento e medo de represálias, adotando o silêncio como forma autoproteção ou por resignação.

Para chegar a essa conclusão, o pesquisador do Insper Gustavo Tavares e suas colegas da FGV Joana Story e Gabriela Lotta entrevistaram em profundidade 25 funcionários do Ministério do Meio Ambiente e aplicaram questionários estruturados a outros 255 entre o final de 2021 e o início do ano seguinte.

A nomeação para cargos de liderança de pessoas descompromissadas com a aplicação rigorosa das leis ambientais e com a burocracia especializada do ministério foi adotada na administração Jair Bolsonaro (2019-2022) para implementar a visão do governo sobre essas políticas públicas.

Gabriela, Joana e Gustavo se propuseram a avaliar o impacto da atuação desses gestores nomeados, cujos valores e trajetórias destoam dos do corpo estável dos servidores da pasta (lideranças “outsiders”), no comportamento dos funcionários regulares do ministério.

A hipótese dos pesquisadores era a de que essas lideranças externas, percebidas como ilegítimas e abusivas, provocariam nos servidores de carreira uma reação ora defensiva, ora resignada, que, no longo prazo, se manifestaria na opção de se silenciar diante das ações de desmonte das políticas ambientais.

Nas entrevistas aprofundadas com 25 analistas ambientais do ministério, os pesquisadores recolheram e sistematizaram os tópicos que apareceram com frequência. Definiram assim as variáveis “liderança externa”, “supervisão abusiva”, “autoestranhamento” (relacionada ao desengajamento no trabalho), “silêncio defensivo” e “silêncio aquiescente” (resignado).

Ato contínuo, fizeram circular entre o grupo maior de funcionários de carreira do ministério um questionário sistematizado, que foi respondido por 255 deles. De posse das respostas, procedeu-se então à análise quantitativa, que deu suporte às hipóteses do estudo.

Quanto mais o chefe é visto com uma liderança de fora dos quadros e dos valores dos servidores de carreira, mais os funcionários recorrem ao silêncio para se defender de uma possível retaliação, já que a liderança é percebida como abusiva.

O silêncio aquiescente também se mostrou positivamente associado à liderança externa, mas o mecanismo que o ativa parece ser, segundo os resultados da análise, um desengajamento do próprio servidor em relação ao seu trabalho, uma atitude de conformismo diante de algo que ele julga que não pode mudar.